Chegou a hora da arquitetura colaborativa
O ano de 2017 foi marcado pelo colaborativismo. De acordo com a consultoria PricewaterhouseCooper, a economia do compartilhamento, famosa pela onda dos serviços de compra coletiva há três anos, movimentará US$ 335 bilhões (R$ 1,2 trilhão) por ano até 2025.
Na arquitetura esse modo de trabalho ganhou força com a premiação do Pritzker, o Oscar da arquitetura, concedido para três arquitetos e urbanistas pela primeira vez em sua história. Os arquitetos Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramón Vilalta, do estúdio RCR Arquitectes, levaram o prêmio e representam o momento atual, onde a colaboração gerou trabalhos em espaços públicos e privados, edifícios culturais e instituições educativas que se relacionam com o ambiente específico de cada lugar. Apesar de impactante, o assunto não é novidade. No geral, grandes empresas de arquitetura que levam o nome de um arquiteto, possuem uma grande equipe por trás. A arquiteta e designer Katalin Stammer trabalha com o conceito colaborativo há 10 anos, desde a saída da faculdade. “Entrei em um projeto grande do SEBRAE de inovação e comecei a ver o quanto é possível abrir a área de trabalho para uma nova visão. Eu não tinha noção do poder da arquitetura para outros tipos de negócios e esse foi o grande start para ver que o design estava envolvendo muito mais coisas do que conhecemos. Era estratégia mesmo, algo que se aplicava de forma prática ao meu segmento de projeto de interiores”, conta Katalin que afirma ter aberto sua mente e possibilitando vários outros negócios a partir desse conhecimento. Um deles é a Escola Curitibana de Design, um local que recebe alunos e profissionais num ambiente de aprendizado e geração de negócios. O modelo, diferente de todos os escritórios de arquitetura da cidade, tem como foco compartilhar conhecimento dentro de um ambiente em funcionamento, com entrega de serviços. A aceitação foi muito maior do que o esperado e atraiu vários profissionais. “Ao oferecer cursos livres abrimos a possibilidade de receber pessoas de qualquer área de atuação interessados em design e arquitetura. Vimos que existe uma realmente uma tendência por essa união e que ela é mais forte do que a gente imagina. A troca de experiências é fundamental”, conta Katalin. No primeiro ano de funcionamento a escola atraiu pessoas de vários estados, além do interior do Paraná em busca de troca de conhecimento e abertas para a inovação.
Motivos para colaborar
O trabalho coletivo gera benefícios, como visões de diversos ângulos e um trabalho mais rápido e eficiente, pois reúne profissionais de múltiplas especialidades, com diferentes experiências numa relação rica de co-criação e colaboração que só se consegue com múltiplos olhares. O resultado é um formato mais orgânico de negócios onde é possível colocar em movimento muitas partes de uma cadeia e de movimentar o mercado.
E, de acordo com especialistas, a geração de valor só virá por meio da colaboração. Para a jornalista sócio educacional Caroline Bond, vivemos um momento singular em nossa evolução. “Historicamente o individualismo foi uma conquista do ser humano: luta por sobrevivência, luta pela vaga no vestibular, na empresa, na fila do pão. Ou seja, já crescemos com medo da escassez e da falta. Porém, perdemos nossa essência coletiva no caminho, e nos desequilibramos. Isso fez com que o planeta todo sofresse as consequências e estamos sendo cobrados como espécie”, conta a jornalista que entende a colaboração como algo muito além de conceito e tendência, mas uma necessidade básica.
No que diz respeito à arquitetura, os avanços estão ligados à quebra de paradigmas estabelecidos, como as questões do processo criativo. Apesar de reconhecer que o segredo da criação do profissional muitas vezes está ligado à estratégia que envolve o negócio, Katalin acredita na formação de grupos de trabalho, com troca de informações. “A entrega do arquiteto não é apenas um projeto. Essa cultura precisa ser modificada. A arquitetura e o design tem um campo imenso de atuação, e o profissional pode colaborar com estratégias dentro de empresas e áreas distintas”, finaliza.
Por © Katalin Stammer | Arquitetura e Design
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